Quando se pratica alguma atividade física contínua, ocorre um aumento natural da temperatura corporal interna em função da atividade muscular ininterrupta e do aumento do fluxo sanguíneo para os músculos envolvidos na atividade.
O equilíbrio entre calor corporal ganho e calor corporal perdido é estritamente regulado para manter a temperatura orgânica interna em uma condição estável e constante: homeostase térmica.
Durante a atividade física, os estímulos que mais desafiam a homeostase térmica são a produção metabólica de calor e as condições ambientais, que estimulam o sistema termorregulatório a manter o organismo dentro dos níveis de segurança de temperatura corporal (37ºC ± 1ºC, até um aumento de 6ºC; Tipton, 2005).
O treinamento em ambientes com temperaturas elevadas tem um efeito profundo no desempenho e na saúde, sendo o impacto do calor no desempenho altamente dependente da temperatura ambiental, umidade e calor de radiação, combinados com intensidade e duração da atividade, além da localização do treino, ambientes fechados ou ambientes abertos.
Eventos esportivos de endurance realizados em ambientes abertos são negativamente afetados pelo calor, e a queda no desempenho observada é maior se o calor aumenta (Galloway & Maughan, 1997). Nesses casos, existe uma grande possibilidade do organismo estar em hipoidratação (níveis baixos de hidratação, mas não desidratação) devido à exposição prévia ao calor e conseqüente perda de líquido. Um déficit de fluido antes da atividade física de endurance da ordem de 1-2% da massa corporal, é capaz de reduzir o desempenho e causar perda substancial deste em eventos de corrida entre 04 e 30 minutos (Shirreffs & Maughan, 1998).
A redução do desempenho no calor é em grande parte devido à desidratação progressiva proveniente das perdas de suor, com conseqüências negativas para a capacidade cardiovascular e função termorregulatória (Gonzalez-Alonso et al. 1999).
O QUÊ FAZER ?
A exposição repetida ao calor produz adaptações fisiológicas e comportamentais que reduzem o impacto do calor no desempenho atlético. A magnitude dessa adaptação ao calor está intimamente relacionada ao grau do estresse térmico ao qual o atleta está exposto, portanto a atividade física durante uma exposição térmica é importante na otimização das adaptações, uma vez que o repouso no calor só produz uma aclimatação parcial.
Com a exposição ao calor, naturalmente ocorre uma redução na capacidade de treinar e se faz necessário uma redução significativa nos volumes e intensidades de treino durante os primeiros dias, quando ocorre a aclimatação.
Este processo é melhor adquirido ao se realizar treinos de intensidade moderada e de duração média durante um microciclo de 7-10 dias. Evidências recentes sugerem que treinos de curta duração e intensidades altas podem ter uma mesma eficiência (Houmard et al. 1990). Dentro dos primeiros dias de treinamento no calor, algumas adaptações são observadas e a adaptação completa se dá dentro de 7-14 dias. Não é necessário que se treine todos os dias, mas o importante é que o atleta/treinador não permita mais de 2 dias de intervalo entre os treinos, de forma que a exposição ao calor seja mais sistemática e o processo adaptativo seja mais rápido e assim mais eficaz.
As adaptações ao calor persistem por algum tempo e os maiores benefícios são mantidos até 7 dias após a exposição contínua, sendo que algumas melhorias das respostas fisiológicas se manifestam durante um período maior, até 15 dias.
Entre essas adaptações, pode-se citar: aumento do volume plasmático; menor estresse cardíaco; distribuição mais efetiva do volume de ejeção cardíaco; melhoria no fluxo sanguíneo cutâneo; início precoce e taxa aumentada de sudorese; baixo conteúdo de sal no suor; eficácia na distribuição de suor pela pele; temperatura orgânica e superficial mais amena para a mesma intensidade absoluta; melhoria da capacidade física; maior conforto; menor dependência do metabolismo dos carboidratos; redução da temperatura orgânica pré atividade física.
É importante esclarecer que cada atleta responde de forma diferente ao calor, e o tempo e duração de adaptação necessária variam entre indivíduos. Não existe forma de prever as respostas individuais de atletas, já que cada organismo tem a sua particularidade genética. Diante disso, cuidado é a melhor maneira de se prevenir os malefícios de treinar em ambientes com muito calor durante um período longo de tempo.
Rodrigo Milazzo Ribeiro, MSc
CREF 003855 – G/RJ
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