*Carlos Duarte é profissional de Educação Física, doutorando em Ciências do Exercício e do Esporte e trabalha na Clinimex
É altamente improvável sair para correr e não encontrar com ao menos uma pessoa usando fones de ouvido, curtindo sua trilha sonora particular enquanto dedica alguns minutos para si mesmo. Possivelmente você faz parte deste grupo que, ao mesmo tempo em que bloqueia a poluição sonora característica da cidade, acessa um estado emocional diferente por estar sentido o prazer de ouvir as músicas que gosta. Mas o que talvez não seja do conhecimento de grande parte destes corredores é que alguns pesquisadores vêm estudando a possível influencia da música no desempenho do exercício, e algumas das evidências encontradas são bem interessantes. Vejamos quais são elas:
- Foi observado que ouvir música durante um exercício realizado a 70% do consumo máximo de oxigênio teve como resposta menor frequência cardíaca, pressão arterial e percepção subjetiva de esforço1. A maior facilidade para ignorar os efeitos os sinais de fadiga (chamada dissociação) em intensidades baixas e moderadas, pode ser obtida através da música e costuma se refletir em uma diminuição de aproximadamente 10% da percepção subjetiva do esforço1-3.
- Em exercícios de intensidade mais alta, ainda que não haja redução da percepção de fadiga, há uma tendência de perceber a experiência (no caso, o treino) como mais agradável4, ou seja, provavelmente será mais fácil dizer “fiz um reino forte, mas estou ok” ao invés de dizer “fiz um treino forte, foi muito difícil”.
- Sincronizar música e movimentos cíclicos (como os feitos na corrida) pode auxiliar a regular o movimento e prolongar o desempenho5,6, uma vez que há uma constante lembrança de qual deve ser o ritmo, o que diminui as chances do corredor diminuir sua frequência de passadas.
- Algumas pessoas7, mas não todas8, podem se sentir mais motivadas se o tema da música for relacionado à esporte ou atividade física. Em relação ao tipo de música, para ser estimulante, esta deverá ser rápida (acima de 120bpm) e ter características rítmicas e melódicas proeminentes (como uma batida forte e uma melodia marcante)9. Já o conteúdo da letra e as características da melodia e harmonia parecem reforçar a resposta afetiva positiva3, que é a resposta emocional à uma experiência (no caso, o exercício).
- Apesar de pouco estudado ainda, o estado de treinamento do indivíduo parece afetar o efeito da música, sendo os mais destreinados os mais propensos a se beneficiarem desta, mas mesmo os treinados, se exercitando em determinadas condições (longa duração e com intensidade mais baixa) podem se beneficiar da música10,11.
É importante ter em mente que, independentemente dos achados nas pesquisas, o prazer gerado pela oportunidade de se exercitar ao som de sua banda favorita não precisariam de justificativas do tipo “15 minutos de Beatles melhoram minha performance em 5%”. Este tipo de experiência não deve depender exclusivamente de respostas quantificáveis. São respostas de caráter subjetivo, e por isso devem ser apenas sentidas.
Igualmente importante é lembrar que certos cuidados devem ser tomados ao se exercitar ouvindo música com fones de ouvido, desde aspectos de segurança – é possível se distrair e não perceber uma ameaça próxima, como uma carro, uma bicicleta ou até mesmo um ladrão – até o fato de que a altura da música não deve ser exageradamente alta nem prolongada, uma vez que o volume de certos aparelhos auditivos portáteis podem ultrapassar 100 decibéis, o que certamente já é o suficiente para trazer danos auditivos.
Com tudo isso em mente, escolha sua lista de músicas e bom treino !
Fonte: Bora Treinar
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