Aos 42 anos, Paulo da Cal, médico pediatra e do esporte pesava 110 quilos. Dezesseis anos e alguns desafios – ou seriam loucuras? – depois, o triatleta da Equipe Márcia Ferreira relata sua experiência no Ironman Brasil de Fortaleza, disputado no último domingo..
“O Monstro Desconhecido”
Tenho cinco Ironman em Florianópolis e dezoito 70.3 (meio iron) no Brasil e nos EUA. Mas Fortaleza tornou-se um desafio totalmente desconhecido pra mim e para muitos. Até porque eu não conhecia a cidade.
Desde a inscrição, em janeiro deste ano, e durante todo o treinamento de quatro meses na Equipe Márcia Ferreira foi sempre um questionamento ‘engraçado’ de como seria e horripilante também: ‘bem, vamos nadar sem roupa especial. Ok. Depois vamos nos encontrar com as rajadas de vento para pedalar. E a corrida será também uma incógnita. O que nos espera? Só tínhamos a mensagem assim.. Gente, vai ser cruel muito cruel. E foi!
A alegria de estarmos juntos conflitava com as condições que nos esperava, que foram piores ainda. A natação com mar mexido, onde as referências apareciam quase que no final de cada percurso dada as alturas das ondas. A notícia de que a boia não conseguia ficar ancorada e foi substituída por dois barcos nos deixou perplexos. Mais ainda quando soubemos que um dos barcos também não conseguiu ficar ancorado.
Parecia que natação tinha subida íngreme. O que nos esperava era realmente um tempo de natação maior para todos os competidores, inclusive a elite. Lá se foram 1h47min. Tenho no máximo 1h18min pra essa distância.
Sai da água sorrindo, talvez querendo um vento um pouco mais fraco na estrada. Doce ilusão…estava mais forte e junto com o sol escaldante. Rajadas algumas vezes e tendo que pedalar nas descidas, se não a bike não evoluía. Vamos segurar nas manetes, no clipe, na bike toda e seja o que for possível…E foram pernas pra que te quero. Comendo, bebendo e jogando água no corpo em cada um dos postos de hidratação. Tudo na ânsia de diminuir aquele calor de vento e vento de calor que maneirava apenas pela ‘singeleza’ do público, quando havia, dada a dimensão dos locais.
Em certo momento fui ajudado por anjos celestiais que desciam dos céus do sertão em forma de sorrisos de algumas crianças pedindo as garrafinhas de água. Não estou só, pensei eu. E ao término desta etapa viria a terceira: a corrida, que parecia ter sido agraciada junto a um público muito participativo. Anonimamente gritavam meu nome, inscrito no peito, energizando: força, Paulo, você consegue! E foram 14K três vezes pela eloquente Beira Mar ao som de músicas regionais e barulheiras de palmas e cantorias.
Meu Deus, obrigado por mais essa volta e essa e mais essa somadas a um ritmo modesto, porém frequente. Me deu a oportunidade de concluir mais um desafio. Agora mais Monstruoso e nem mais desconhecido para o meu corpo, minha mente, meu desejo, minha satisfação pessoal. Vencer mais um limite instaurado por mim: 13h59min no sprint, na garra, na alegria, no quero mais. Obrigado a todos!”