Entrevista concedida à CBTri em 2009.
Uma das mais importantes triatletas da década de 90, a carioca Márcia Ferreira foi escolhida pela CBTri para participar de um curso internacional de técnicos em Colorado Springs, Estados Unidos. Nada mais justo para alguém que tanto representa atualmente neste esporte para todas as gerações pela sua competência e exemplo de luta. Pois Márcia, com o brilhantismo de sempre, já arrumando as malas, nos concede a entrevista abaixo onde expõe, com clareza, os seus projetos, analisa o momento atual do esporte e fala, sem rodeios, do seu prematuro abandono de carreira.
Márcia, por favor, conte para a nova geração um pouco da sua história no triathlon.
A minha bagagem esportiva foi proveniente das corridas de rua e provas como maratona, as quais me ajudaram muito a ingressar no triathlon. A minha primeira prova nesta modalidade esportiva foi em Santos no ano de 1991, onde obtive o terceiro lugar geral e muita credibilidade para levar avante um sonho de ser triatleta profissional. Muita dedicação e comprometimento nos treinos corroboraram para conquistar títulos expressivos como campeonatos brasileiros e sul-americanos. Participei de muitas competições nacionais e internacionais almejando sempre o melhor lugar no pódio e com muitas pretensões de representar o meu país na Olimpíada de Sydney. Em 1997, quando ocupava uma excelente colocação no ranking mundial de triathlon, tive minha carreira bruscamente interrompida ao ser atropelada na Praia de Botafogo (RJ) quando treinava ciclismo, sendo notícia até fora do país. Após inúmeras cirurgias e tentativas de retorno frustradas, resolvi estudar Educação Física para com minha experiência prática e conhecimento teórico formar novos triatletas. Voltei a competir apenas em 2000, já então dando mais ênfase ao treinamento de minha equipe na ESEFEX (Escola de Educação Física do Exército), e agora faço parte do quadro de professores do ESPORTE CLUBE SÃO JOÃO no Forte da Urca.
Quais foram os seus principais títulos?
Tricampeã brasileira (94-95-96) e bicampeã Sul-americana (95-96) de triathlon.
Como é possível comparar as duas épocas?
São épocas bastante distintas. Uma situação que difere claramente às mesmas seria a questão do vácuo. Tive a oportunidade de passar por uma grande transição de provas sem vácuo para com vácuo tendo que fazer muitos reajustes no programa de treinamento. Além disso, contava com patrocinadores muito fortes que reconheciam a minha estabilidade em face aos resultados das provas nacionalmente e acreditavam no meu potencial como atleta profissional em níveis internacionais. Hoje, o cenário esportivo, de um modo geral, não apresenta este perfil de incentivo financeiro ao atleta promissor. Acho que vivi uma época de ouro do triathlon.
Como é o seu trabalho como treinadora?
A Equipe Márcia Ferreira foi criada em 1999, visando a dar continuidade ao aparecimento e treinamento de jovens triatletas. Considero-me uma espécie de “caça talentos”. No entanto, conto com atletas de todas as idades, bem como de pessoas de nível de condicionamento diferenciado que vão desde o iniciante até aqueles que buscam um resultado significativo de âmbito profissional.
A equipe possui grupos voltados para a modalidade triathlon, duathlon ou somente para o atletismo envolvendo as “provas de rua” especificamente. Procuro desenvolver um trabalho individualizado com cada integrante de minha equipe, buscando o aprendizado, bem como o aprimoramento em cada uma das modalidades no triathlon. Hoje, coordeno uma escolinha de biathlon no Forte da Urca para justamente dar a oportunidade a todos que desejam, em um futuro próximo, ingressar neste esporte fascinante que é o triathlon.
Atualmente existe mais educação no trânsito em relação ao ciclista e ao triatleta?
Infelizmente, não existe e nunca existiu educação no trânsito em relação aos que utilizam uma bicicleta. Na verdade, nossa população ainda não se conscientizou de que tanto o ciclista, como o triatleta merecem mais respeito, e cordialidade no trânsito. Existe um despreparo por parte dos motoristas quando necessitam dividir as mesmas vias com atletas em treinamento.
Qual a tendência do triathlon no futuro?
A tendência mundial é tornar-se, cada vez mais, competitivo. Desta forma, deve-se primar não somente por atletas potencialmente talentosos, como também capacitar seus respectivos treinadores a desenvolver um trabalho de qualidade visando resultados de âmbito nacional e internacional.
Alguma atleta atual lembra Márcia Ferreira?
Apesar da minha admiração por algumas atletas, acredito que todas aquelas que se destacam na atualidade são bem diferentes da atleta Márcia Ferreira.
Determinada modalidade tem mais importância no triathlon atualmente?
Hoje, nós não contamos somente com três modalidades no triathlon e sim quatro, pois a transição já faz parte deste contexto. Portanto, as quatro modalidades são consideradas importantes quando se almeja o lugar mais alto do pódio.
E a expectativa para curso em Colorado Springs?
As minhas expectativas são as melhores quando se trata em adquirir conhecimento, principalmente em um local considerado um dos melhores centros de treinamento de triathlon da atualidade. Espero usufruir, de todas as formas, desta grande oportunidade profissional não somente como treinadora de triathlon, mas também como representante de meu país tendo como principal meta retransmitir a todos o conteúdo ministrado.
[facebook]